sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Sobrevivência a qualquer custo


O dia-a-dia na usina de tratamento de lixo na Ceilândia não é nada agradável. O odor é insuportável e os catadores que trabalham no local não utilizam nenhum tipo de máscara. Eles inalam o mau cheiro durante todo o tempo em que fazem a separação dos materiais recicláveis. E é por meio da venda desses materiais que várias famílias tiram seu sustento. Eles formam uma associação e são agregados à Central de Cooperativas do DF (CENTCOOP).

Segundo André Luiz, engenheiro florestal com especialização em gestão ambiental, as duas usinas existente no Distrito Federal não são ecologicamente corretas. "O lixo recebido é armazenado de forma indevida, os trabalhadores não utilizam os equipamentos de proteção individual (bota, óculos, luva, protetor auricular e capacete) adequados e a infra-estrutura é muito antiga", diz.

Maria das Graças, catadora há 15 anos, trabalha na usina da Ceilândia e tira de lá o dinheiro para colocar alimento em casa. Ao ser perguntada o que de mais interessante já encontrou no lixo, ela desabafa: "O mais interessante foi encontrar no lixo um meio de sobrevivência".

O Serviço de Limpeza Urbana (SLU) deveria levar apenas resíduos secos e recicláveis para o Centro de triagem, local onde realiza a separação, mas não é isso que acontece. "Os catadores têm contato com tudo que é recolhido e vários trabalhadores adquirem doenças causadas pelo contanto direto com o lixo e pela ausência do uso de equipamentos de proteção", explica Assis Linhares, secretário geral da CENTCOOP.

As associações de catadores passaram a fazer a separação dos materiais recicláveis a partir de 2002, antes eram os próprios garis. "Os catadores não são funcionários do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), é uma categoria independente e estão na rede formada pela gestão do lixo. São os responsáveis pela triagem dos materiais recicláveis, vendem e promovem a reciclagem de forma direta", explica Juliane Berber, chefe da Assessoria de Planejamento Ambiental.

Segundo Assis, a realidade das condições de trabalho dos catadores é ruim porque é uma classe invisível e excluída pela sociedade. Falta cidadania, oportunidade e conhecimento em relação ao trabalho exercido por eles. "Se as associações tivessem gestores qualificados que fizessem um trabalho de conscientização entre os trabalhadores e buscasse mais recursos para melhores condições de trabalho a situação poderia ser melho"?, sugere Assis.

O SLU reconhece a categoria, e está construindo centros de triagem de materiais recicláveis para que estes catadores se formalizem, façam a auto-gestão destes locais e retirem sua renda da venda destes produtos.
No DF, a produção de lixo diária por habitante é cerca de 1,68 kg, sendo que a média nacional é de 0,800g. O SLU pretende reduzir a produção de lixo por meio de campanhas educativas, que também orientará quanto à separação de resíduo orgânico e reciclável.
"Vamos incentivar o reaproveitamento e a reciclagem, implantar de forma gradual e efetiva a coleta seletiva e por fim dar uma destinação final adequada ao rejeito, encaminhando a um aterro sanitário licenciado pelo Governo", almeja a chefe da assessoria de planejamento ambiental.

Museu da Limpeza Urbana
O Museu da Limpeza Urbana, localizado na usina de tratamento da Ceilândia, foi desenvolvido com o intuito de mostrar para a sociedade que o lixo reciclado e separado pode virar arte. A idéia surgiu em 1996; na época eram os garis que faziam a separação do lixo. Eles encontravam durante o trabalho máquina de costura, cédulas de antigas moedas brasileiras e bichinhos de pelúcia e decidiram montar um museu com as peças encontradas.

No museu existem vários modelos de televisões antigas, os primeiros modelos de celulares, a primeira máquina de colocar preço em mercadorias, vários tipos de relógios antigos e até um telex e um computador da década de 1970, todo revestido de madeira.

Hoje são cerca de 300 objetos, nem todos encontrados durante a coleta de lixo. "Muitas pessoas passaram a doar para o museu, é melhor do que jogar na rua", diz a ex-gari Maria Rodrigues, auxiliar administrativa e zeladora do museu.






 G5

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