O
dia-a-dia na usina de tratamento de lixo na Ceilândia não é nada agradável. O
odor é insuportável e os catadores que trabalham no local não utilizam nenhum
tipo de máscara. Eles inalam o mau cheiro durante todo o tempo em que
fazem a separação dos materiais recicláveis. E é por meio da venda desses
materiais que várias famílias tiram seu sustento. Eles formam uma associação e
são agregados à Central de Cooperativas do DF (CENTCOOP).
Segundo
André Luiz, engenheiro florestal com especialização em gestão ambiental, as
duas usinas existente no Distrito Federal não são ecologicamente corretas.
"O lixo recebido é armazenado de forma indevida, os trabalhadores não
utilizam os equipamentos de proteção individual (bota, óculos, luva, protetor
auricular e capacete) adequados e a infra-estrutura é muito antiga", diz.
Maria das
Graças, catadora há 15 anos, trabalha na usina da Ceilândia e tira de lá o
dinheiro para colocar alimento em casa. Ao ser perguntada o que de mais
interessante já encontrou no lixo, ela desabafa: "O mais interessante foi
encontrar no lixo um meio de sobrevivência".
O Serviço
de Limpeza Urbana (SLU) deveria levar apenas resíduos secos e recicláveis para
o Centro de triagem, local onde realiza a separação, mas não é isso que
acontece. "Os catadores têm contato com tudo que é recolhido e vários
trabalhadores adquirem doenças causadas pelo contanto direto com o lixo e pela
ausência do uso de equipamentos de proteção", explica Assis Linhares,
secretário geral da CENTCOOP.
As
associações de catadores passaram a fazer a separação dos materiais recicláveis
a partir de 2002, antes eram os próprios garis. "Os catadores não são
funcionários do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), é uma categoria independente e
estão na rede formada pela gestão do lixo. São os responsáveis pela triagem dos
materiais recicláveis, vendem e promovem a reciclagem de forma direta",
explica Juliane Berber, chefe da Assessoria de Planejamento Ambiental.
Segundo
Assis, a realidade das condições de trabalho dos catadores é ruim porque é uma
classe invisível e excluída pela sociedade. Falta cidadania, oportunidade e
conhecimento em relação ao trabalho exercido por eles. "Se as associações
tivessem gestores qualificados que fizessem um trabalho de conscientização
entre os trabalhadores e buscasse mais recursos para melhores condições de
trabalho a situação poderia ser melho"?, sugere Assis.
O SLU
reconhece a categoria, e está construindo centros de triagem de materiais
recicláveis para que estes catadores se formalizem, façam a auto-gestão destes
locais e retirem sua renda da venda destes produtos.
No DF, a
produção de lixo diária por habitante é cerca de 1,68 kg, sendo que a média
nacional é de 0,800g. O SLU pretende reduzir a produção de lixo por meio de
campanhas educativas, que também orientará quanto à separação de resíduo
orgânico e reciclável.
"Vamos
incentivar o reaproveitamento e a reciclagem, implantar de forma gradual e
efetiva a coleta seletiva e por fim dar uma destinação final adequada ao
rejeito, encaminhando a um aterro sanitário licenciado pelo Governo",
almeja a chefe da assessoria de planejamento ambiental.
Museu da
Limpeza Urbana
O Museu
da Limpeza Urbana, localizado na usina de tratamento da Ceilândia, foi
desenvolvido com o intuito de mostrar para a sociedade que o lixo reciclado e
separado pode virar arte. A idéia surgiu em 1996; na época eram os garis que
faziam a separação do lixo. Eles encontravam durante o trabalho máquina de
costura, cédulas de antigas moedas brasileiras e bichinhos de pelúcia e
decidiram montar um museu com as peças encontradas.
No museu
existem vários modelos de televisões antigas, os primeiros modelos de
celulares, a primeira máquina de colocar preço em mercadorias, vários tipos de
relógios antigos e até um telex e um computador da década de 1970, todo
revestido de madeira.
Hoje são cerca de 300 objetos, nem todos encontrados durante a
coleta de lixo. "Muitas pessoas passaram a doar para o museu, é melhor do
que jogar na rua", diz a ex-gari Maria Rodrigues, auxiliar administrativa
e zeladora do museu.
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